Fauna

A fauna da região é riquíssima, porém pouco estudada (menos conhecida que sua flora). Em um levantamento preliminar realizado em 1977 constatou-se a presença de 56 espécies de mamíferos distribuídos em 15 família (relatório não publicado, veja Fernandes 1994).

Estudos recentes da sua fauna têm-se concentrado em insetos, anfíbios, peixes, répteis e aves. Insetos Entre os insetos, os formadores de galhas, as formigas, os minadores de folhas, os mastigadores, sugadores e moscas de frutas têm sido estudados quanto aos padrões de distribuição e diversidade.

Estudos recentes também têm sido conduzidos sobre insetos aquáticos e abelhas da região (veja Fernandes 1998, Nieser & Melo 1998). A maior diversidade mundial registrada de espécies de insetos formadores de tumores vegetais é encontrada em vegetações esclerófilas do campo rupestre da Serra do Cipó (Lara e Fernandes 1996).

O mosaico de habitats e condições climáticas da região são fatores que influenciam o alto endemismo, especiação e radiação da sua fauna (Fernandes 1992, Fernandes & Price 1988, 1991), sendo portanto de vital importância seu estudo detalhado.

O grau de endemismo da fauna é também muito alto, ressaltando-se os insetos e anfíbios (Ribeiro 1992, Lara 1994, Fernandes 1998).

Por exemplo, cerca de 90% das espécies de Cecidomyiidae (Diptera) são novas para a ciência, sendo que inúmeros gêneros estão sendo descritos pela primeira vez (Lara & Fernandes 1998).

Algumas espécies de abellhas e microlepidópteros galhadores da Serra do Cipó são apenas encontradas em montanhas andinas (veja Fernandes et al. 1996. Fernandes 1998).

Anfíbios
Nas altitudes superiores destacam-se as presenças da rã diurna, Phyllobates flavipictus, de colorido vivo, e do sapo de pijama Hyla cipoensis, bem como H. machadoi e H. pinima (Feio et al. 1998). Répteis A população local do jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) está se recuperando lentamente, podendo alguns indivíduos de idades diversas ser avistados no interior do Parque.

Os grandes lagartos tiús (Tupinambis teguixim) são avistados facilmente nas bordas de matas nos meses quentes. O pequeno lagarto arborícola conhecido como bicho-preguiça (Polychrus acutirostris) pode ser visto facilmente sobre galhos baixos.

Os pequenos lagartos terrestres dos gêneros Ameiva (de costas de cor verde viva) e Tropidurus (castanhos) são comumente observados em áreas abertas. Diversas cobras não-venenosas, como a jibóia (Boa constrictor) são frequentemente avistadas. 

Bicho-preguiça (Polychrus acutirostris), lagarto comum na região

Peixes
Duas espécies novas de peixes foram recentemente descobertas nos rios da UC, estando em processo de descrição taxonômica (Vieira et al. 1998).

Mamíferos
Raposas (cachorros-do-mato), veados-catingueiros (Mazama gouazoubira, cervídeo), veados-mateiros (Mazama americana, cervídeo) e micos (Callithrix penicillata, primata) são relativamente comuns; as capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris, roedor) são abundantes, principalmente no vale do Rio Cipó. Várias espécies de mamíferos ameaçadas de extinção são encontradas na UC: Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, canídeo); Veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus, cervídeo), provavelmente extinto na região; Onça parda (Felis concolor, canídeo); Jaguatirica (Felis pardalis, felídeo); Gato-maracajá (Felis wiedii, felídeo). Gato-do-mato-pequeno (Felis tigrina, felídeo).

Aves
A pequena ave Asthenes luizae (joão-cipó, furnarídeo) é exclusiva do Maciço do Espinhaço, sendo por isso classificada como espécie endêmica (de distribuição geográfica restrita). São comuns na região: a grande pernalta seriema (Cariama cristata, cariamídeo, difícil de avistar mas fácil de ser ouvida de manhã nas áreas abertas) vive em casais no cerrado e nos campos; os gaviões de tamanhos diversos (accipitrídeos) e os urubus-caçadores (Catharthes aura, catartídeo) são vistos voando sobre os campos eas matas; os gavões mais comuns são o pinhé (Milvago chimachima), o gavião-carijó (Buteo magnirostris) e o carcará (Polyborus plancus).

Uma das aves mais representativas das áreas abertas é o pica-pau chanchã (Colaptes campestris). Conservação Por não ter sido estudada detalhadamente nas duas últimas décadas, o conhecimento sobre a fauna de vertebrados na UC e região de entorno é bastante precário. Trabalhos importantes de descrição de espécies foram realizados, mas estes não foram seguidos por trabalhos sobre a ecologia das espécies. Alguns estudos têm sido feitos na Unidade ou seu entorno visando o manejo de espécies de vertebrados ou invertebrados ameaçados de extinção, em especial da onça-parda e do jacaré-de-papo-amarelo.

Embora os estudos de invertebrados tenham aumentado consideravelmente nos últimos anos, estes estão aquém da relevância destes organismos na estruturação e funcionamento de comunidades, principalmente dos campos rupestres e cerrado.

A ema (Rhea americana), a onça-pintada (Panthera onca, felídeo) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla, desdentado) não existem mais na região em função da caça. Todavia, esses dados podem não retratar com fidelidade a situação atual da fauna da UC, pois datam de 1977 (CM Valle & NE Carnevalli, relatório não publicado).

Algumas informações acima são fruto de observações de técnicos do Parque. Certamente, inúmeras espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção encontram refúgio e abrigo no PARNA Serra do Cipó.

Entre as ameaças mais sérias à conservação dos mamíferos do Parque Nacional da Serra do Cipó e do seu entorno (APA) estão a perseguição por cães domésticos (especialmente contra pacas e veados), atropelamento na rodovia MG-10 (vitimando especialmente lagartos, cobras e veados), o desmatamento ilegal e os incêndios florestais (que vêm sendo coibidos pelo IBAMA). É de grande importância dar continuidade aos estudos sobre invertebrados e vertebrados ora em desenvolvimento.

Ainda, deve-se buscar mais pesquisadores interessados em iniciar projetos com grupos até então não estudados. Apoio e ênfase devem ser dados àqueles estudos zoológicos que visam o conhecimento da dinâmica e genética populacional, distribuição, reprodução, interações tróficas e comportamento, principalmente daquelas espécies merecedoras de cuidados do ponto de vista da conservação e manejo, como por exemplo do pássaro Asthenes luizae e do lobo guará, Chysocion brachyurus, dentre outros.

O estudo de espécies bioindicadoras da qualidade de habitats devem também ser priorizadas, como por exemplo de lepidópteros, insetos galhadores, abelhas, vespas, libélulas e formigas.

Fonte: IBAMA - Parque Nacional da Serra do Cipó